Giuseppe Verdi
Poderá surpreender alguns, mas a verdade é que quase involuntariamente o grande músico tornou-se figura do Chiado. A ópera foi o campo de eleição do genial Giuseppe Verdi (1813-1901). A Itália aspirava há muito à unificação, que pusesse fim à manta de retalhos existente. Havia necessidade de ídolos e Verdi assumiu esse papel. O artista tornou-se um herói nacional de Itália, admirado em toda a Europa. Lembramo-nos da cena inicial do filme «Senso» de Visconti: «O Trovador» arrebata os espíritos… O nome do genial autor é escrito nos muros das cidades para significar o apelo unificador de «Vittorio Emmanuele Re d’Italia» (V.E.R.D.I.). Poucos sabem, porém, que, segundo a tradição oral dos nossos meios operáticos lisboetas, nos anos trinta do século XIX (1838), sendo ainda Verdi pouco conhecido, Angelo Frondoni (c. 1808-1891) foi escolhido como maestro do Teatro de S. Carlos em 1838. No entanto, em alternativa, o nome considerado foi o de Giuseppe Verdi. Bartolomeo Merelli, do Teatro Alla Scala de Milão, indicou Frondoni, mas há correspondência desse tempo com Verdi, designadamente a propósito da primeira ópera representada em Milão (“Oberto”, 1839). E o certo é que no S. Carlos as estreias de Verdi tornar-se-iam habituais, poucos meses depois das apresentações absolutas.
Mas há mais: quando o jovem rei D. Luís, grande melómano, visitou Paris em dezembro de 1866, foi recebido em casa de Rossini. E houve uma pequena récita, na qual, segundo a «Crónica dos Teatros», participou o já celebérrimo Verdi e o rei de Portugal, tendo este cantado a romanza do «Trovador», com o acompanhamento ao piano do próprio Verdi. Este tornou-se o autor mais representado em Portugal. «Rigoletto», «Trovador» e «La Traviata» estrearam-se no Porto, enquanto em Lisboa couberam as estreias de «Nabucco», «O Baile de Máscaras», «Ernâni» e «Macbeth». Em 27 de janeiro de 1901, no dealbar do novo século, Verdi morreu – como símbolo máximo da ópera – e bem poderia ter dirigido o nosso S. Carlos…
Guilherme d’Oliveira Martins