Basílica dos Mártires

Orgão da Basílica dos Mártires © Basílica dos Mártires

A Igreja dos Mártires constitui um espaço emblemático do Chiado. Lugar de reunião, nos últimos dois séculos, de “toda a Lisboa” que por ocasião das principais festas litúrgicas, aqui se mostrava e convivia.

A primeira Igreja de Nossa Senhora dos Mártires erguia-se próximo do edifício da Faculdade de Belas Artes, ao cimo da Calçada de S. Francisco. Remontava ao tempo da Conquista de Lisboa (1147) por D. Afonso Henriques e foi construída sobre as sepulturas dos cruzados mortos na luta contra os mouros, durante o ataque ao Castelo de S. Jorge. Foi a primeira igreja cristã e a primeira paróquia da cidade de Lisboa e aqui se celebraram os primeiros batismos, após a Reconquista. O território da freguesia dos Mártires era muito vasto, estendendo-se desde a Sé até Alcântara e a sua importância na vida da cidade era grande. Na Igreja dos Mártires, por exemplo, fez-se a primeira celebração litúrgica de homenagem aos restos mortais do Infante Santo, em 1472, trazidos de Marrocos. Renovada e ampliada nos séculos XVI, XVII e XVIII era já uma grandiosa igreja barroca quando o terramoto de 1755 a destruiu.

A atual igreja, com fachada sobre a Rua Garrett (antiga Rua das Portas de Santa Catarina), da autoria do arquiteto Reynaldo Manoel dos Santos (1731-1791), foi construída depois do terramoto de 1755 e as obras foram pagas pelo negociante do Porto, Manuel Pacheco Pereira. Constitui um exemplo de arquitetura religiosa integrada nas novas linhas urbanísticas e no reordenamento da cidade definido pelo Marquês de Pombal. A construção terminou em 1784 e veio a merecer o título de Basílica.

É um exemplar caraterístico da arquitetura religiosa pombalina, de composição clássica com elementos da gramática decorativa do barroco e do rococó. A fachada principal apresenta um corpo central e dois corpos laterais. O conjunto é rematado por um frontão triangular com um óculo. A torre sineira, de linhas barrocas, implanta-se na parte posterior do edifício. Sobre o pórtico central, pode observar-se o medalhão redondo que representa o rei D. Afonso Henriques agradecendo a Nossa Senhora a vitória na conquista de Lisboa. Com estra representação escultórica, invoca-se a temática da dedicação do templo primitivo, reforçada pela representação da lendária figura do cruzado Guilherme da Longa Espada, obra do escultor Francisco Leal Garcia.

No interior, de nave única com capelas laterais, destaca-se a pintura do teto, da autoria de Pedro Alexandrino, pintor português da segunda metade do séc. XVIII. Representa a dedicação do templo primitivo a Nossa Senhora dos Mártires, rodeada pelos doutores da Igreja. O mesmo autor assina as pinturas das oito capelas laterais. Na capela mor, destaca-se a banqueta e trono de mármore negro dedicado ao Santíssimo Sacramento. A imagem da Virgem apresenta o Menino Jesus, no seu braço esquerdo, e a palma da vitória dos mártires, no direito.

De salientar ainda o majestoso órgão de 1780 que acompanha muitos dos concertos que aqui se realizam.

A pia batismal, localizada na capela do lado esquerdo, à entrada da basílica, é uma peça original, tendo sido recuperada intacta da primitiva igreja e apresenta inscrição do primeiro batismo, em 1147. Nela foram batizados, em 1514, São Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga que se destacou pela sua notável participação no Concílio de Trento e o poeta Fernando Pessoa, em 1888.

De destacar, ainda, o presépio do século XVIII, com 126 figuras, obra influenciada pela oficina de Machado de Castro.

A Basílica dos Mártires constitui um espaço emblemático do Chiado que, nas palavras de Eça de Queiroz, constituía um pequeno mundo que “se conhecia, se frequentava”. Aqui coloca o escritor cenas das suas obras A Relíquia e O Primo Basílio e, bem perto viveu Fernando Pessoa que, com o seu poema “O sino da minha aldeia”, publicado na Revista Presença em 1914, evoca as badaladas do sino da Basílica.

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