Teixeira de Pascoaes
O Solar de Pascoaes – Gatão (Amarante) é a grande referência. Mas não podemos esquecer a presença do poeta, escritor e pensador no Chiado. Para ele o Chiado era a capital da Lisboa cosmopolita. É curioso como um poeta tão próximo das raízes vivia de algum modo encantado pela capital, não como referência de poder, mas como um encontro de artistas e poetas. Afinal, “A Arte de Ser Português” também passava pelo Chiado, como lugar de encontros e diálogos. Por isso, publicamos também uma antiga fotografia na Brasileira do Chiado. Teixeira de Pascoaes (1877-1952) é o primeiro a contar da esquerda.
E citemos Maria José Teixeira de Vasconcelos a recordar as estadas em Lisboa: “Nos primeiros anos, alugámos uma casa na Calçada da Estrela, 129, 2.º. Passámos um inverno numa pensão na Rua Alexandre Herculano — e depois instalámo-nos numa simpática e romântica estalagem na Rua das Janelas Verdes, 31 — a York House”. E qual era o quotidiano de Teixeira de Pascoaes em Lisboa nesse tempo? “De manhã, escrevia. À tarde descia e subia o Chiado com dois amigos e não faltava às tertúlias da Brasileira e às reuniões à porta da Bertrand, onde apareciam Raul Brandão, Mário Beirão, Câmara Reis, o extraordinário pintor Columbano Bordalo Pinheiro e outros”. E está tudo dito. O Chiado era uma referência essencial. E quando lemos “O Susto” de Agustina Bessa-Luís facilmente percebemos a relação contraditória entre Fernando Pessoa e Pascoaes. Há uma interessante tensão, projetada na perspetiva assumida por Agustina, de especial na admiração pelo poeta do Marão. Na mesa do fundo d’A Brasileira do Chiado sentavam-se Teixeira de Pascoaes, Vitoriano Braga e Gualdino Gomes; “apareciam sempre, à tarde, Raul Brandão, João Correia d’Oliveira, Francisco Lage, Alfredo Cortês, Mário Beirão” – é Joaquim Paço d’Arcos quem o lembra. Então o jovem editor e também poeta Guilherme de Faria conheceu Teixeira de Pascoaes. A presença de Pascoaes no Chiado é singularíssima. Como reconhecerão até os seus críticos, mesmo apesar do saudosismo, o certo é que a sua força e originalidade poéticas correspondem a uma ligação entre terra e o espírito, entre geografia e a humanidade – numa interrogação sobre a “Arte de Ser Português”…
Guilherme d’Oliveira Martins