Nuno Álvares Pereira
Paredes meias com o Chiado, o Carmo constitui referência antiga na cidade, em especial ligada a D. Nuno Álvares Pereira (1360- 1431) que fundou o Convento em 1389. O mesmo foi ocupado, inicialmente, por frades carmelitas provindos de Nossa Senhora do Carmo de Moura (Alentejo) solicitados por D. Nuno para ingressar no Convento de Lisboa. Nun’Álvares doou os seus próprios bens ao convento e, em 1423, ingressou como religioso, num período em que as suas obras estavam concluídas. Frei Nuno de Santa Maria escolheu a Igreja do Convento como sua sepultura, embora, em 1953 tenha sido transladado para a Igreja de Santo Condestável (Campo de Ourique). Nuno Álvares foi canonizado como São Nuno de Santa Maria pelo Papa Bento XVI a 26 de abril de 2009. O Convento foi destruído pelo Terramoto de 1755. Disse-se então, que caiu o Carmo e a Trindade. No reinado de D. Maria I iniciou-se a reconstrução de uma ala do convento em estilo neogótico, mas os trabalhos foram interrompidos em 1834 com a extinção das ordens religiosas.
Segundo Fernão Lopes, D. Nuno Álvares Pereira foi um dos filhos naturais do Prior da Ordem do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves do Carvalhal. Nun’Álvares cresceu na casa do seu pai até aos treze anos. Foi lá que se iniciou “como bom cavalgante, torneador, justador e lançador”, e sobretudo onde ganhou gosto pela leitura. Foi um leitor entusiasta dos “livros de cavallaria que a pureza era a virtude que tornara invenciveis os heroes da Tavola Redonda, e procurava que a sua alma e corpo se conservassem immaculados“. Entre os companheiros do Rei Artur, considerou especialmente a figura e o exemplo de Sir Galahad na demanda do Santo Graal. Foi braço direito do Mestre de Aviz, D. João, sendo protagonista da crise de 1383-85. Entre 1383 e 1400 esteve envolvido na condução da guerra da independência com Castela. Teve três importantes batalhas que venceu – Atoleiros, Aljubarrota e Valverde. A batalha dos Atoleiros (1384) constituiu na Península a primeira e efetiva utilização das novas técnicas de defesa de forças de infantes em inferioridade numérica, aprendida dos ingleses, perante uma cavalaria pesada superior. Através da disposição em quadrado e da técnica de «pé em terra», os peões armados com lanças esperavam a carga da cavalaria inimiga, numa tática defensiva. A dedicação à causa do Mestre foi generosamente recompensada pelos vários títulos e territórios que recebeu e que viriam a constituir a base da futura Casa de Bragança. Desde 1376 Nun’Álvares estava casado com D. Leonor Alvim. O casal estabeleceu-se no Minho em Cabeceiras de Basto, numa propriedade de D. Leonor. O pai, com este casamento, garantiria o futuro do filho, já que D. Nuno não podia suceder-lhe no cargo de prior. Contudo, o cargo passou para o seu irmão Pedro, que acabaria por tomar o partido de Castela. Pelo casamento de D. Afonso, filho natural de D. João I, com a filha de D. Nuno, D. Beatriz Pereira de Alvim nasceria o Ducado de Bragança. Depois da conquista de Ceuta em 1415, decidiu abraçar a vida religiosa em 1423, como irmão donato no convento do Carmo, que tinha mandado construir.
Guilherme d’Oliveira Mastins