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Música
Galeria Zé dos Bois
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Sorry ao vivo em Lisboa

A vinda à ZDB acontece com um álbum – “Anywhere But Here” – na bagagem que finalmente lhes dá estrada e a frescura de ideias que isso acarreta. Algo imensamente benéfico para uma banda nova, que já provou estar em constante renovação e que não se perde nesta coisa das fórmulas que resultam. Estão aqui para a constante surpresa.

 

O primeiro álbum de Sorry, “925” (Domino), foi um daqueles que teve coragem para sair no início da pandemia, quando aquelas promessas de duas ou três semanas pareciam bem reais e que uma pezada no travão levariam o mundo todo a bom porto bem rápido. Isso não interferiu com o sucesso de “925”, óptimas críticas em quase todo o lado. Prova disso é que estamos neste momento a falar de “925” e de Sorry. Mas afetou a experiência de uma jovem banda que se preparava para começar uma digressão norte-americana com os Sleaford Mods. Tocaram um concerto antes de tudo ser cancelado, passaram de uma Nova Iorque absolutamente vibrante para uma cidade deserta. Teve impacto no grupo de miúdos que cresceram em Londres e começaram a ganhar notoriedade na Windmill, em Brixton, sala-referência da última década, que viu os Black Midi, Shame e Goat Girl crescerem. Isso foi canalizado para “Anywhere But Here”, o álbum onde se viram para o rock e soam a uma a fusão de Blur com Young Marble Giants e Slint. Estranhamente tudo isto faz sentido.

Grande nome para uma banda. Por vezes vale a pena debruçar sobre essa ideia, de como foi preciso chegar aos 2020s para se falar de uma banda chamada Sorry (existem outras, mas nenhuma entrou no domínio popular como eles). Amigos desde a adolescência, Asha Lorenz e Louis O’Bryen começaram a fazer música como forma de se espicaçarem um ao outro, criando canções que colocavam no Soundcloud e competiam pelo maior número de audições. Parte do resultado disso estão nos dois maravilhosos volumes das “Home Demo/ns”, introdução não formalizada para a verdadeira carta de apresentação, “925”, aí já em formato quinteto com Lincoln Barrett, Campbell Baum e Marco Pini. “925” não pediu desculpa – inevitável encontro com a piada. Trazia um som direto que funcionava na linguagem novo rock e era, em simultâneo, mas com um refresh geracional, um conjunto de hits para se ouvir no contexto de club (mais no contexto britânico/americano do que no europeu). Parecendo que não, é uma abordagem que por vezes é recusada por bandas que escalam por meios mais artísticos/underground. Os Sorry abraçaram e consolidaram um tipo de som que, por mais que se pesque por referências diretas, é-lhes único. E aí se chega ao combo Blur+Young Marble Giants+Slint, aos quais se podia juntar Tortoise, Pavement, ou para dar um tom 2000s, os Dirty Projectors (ainda se lembram de como eles soavam a tanta coisa e não havia nada parecido com eles? Sorry também é assim).

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