Em palco, cria um ritual a solo, na tentativa de alcançar um estado no qual possa estabelecer um diálogo com Simbi, a divindade guardiã das águas, conectando-se com um futuro sem tempo, inscrito num ato coletivo de sonhos não-coloniais.
A minha dança entrelaça-se com as filosofias intrínsecas ao vodu, ao kuduro e ao coupé-décalé, ou, pelo menos, com a forma como as percebo. O impacto desse campo coreográfico no meu movimento é atravessado pelos meus esforços de resolver impossibilidades existenciais, oriundas de uma diáspora que herdei do meu pai haitiano um território que associo ao ausente, ao invisível e aos sonhos. Em Simbi em águas astronómicas exploro uma identidade negra transatlântica, onde se acumulam águas sem se anularem. Imersa nas narrativas do vodu, procuro revisitar o que é ambíguo e híbrido em mim: sou a sedutora e “mulata” Erzulie, ou a criança mestiça que se aproxima das águas proibidas, ou ainda sou o ser, a serpente, que se solta do meu corpo para me distanciar das lógicas antropomórficas.
Inés Sybille Vooduness
Ideia, direção artística e coreografia Inés Sybille Vooduness
Acompanhamento artístico e dramaturgia Camilo Mejía Cortes
Cenografia e figurino Sofía Archer Lab
Vídeo Heidi Ramírez
Música Nelsoniq
Desenho de Luz Ivan Cascon
Coprodução Teatro do Bairro Alto, Festival TNT
Residências de coprodução Cultura em viu (Universitat Autònoma de Barcelona), O Espaço do Tempo, Casa da Dança, Estúdios Vitor Cordon
Fotos Heidi Ramírez
Nascida em Barcelona, filha de mãe catalã e pai haitiano, INÉS SYBILLE VOODUNESS vive atualmente em Lisboa. Entre 2018 e 2022, integrou o coletivo Ku’dancin Afrobeatz, onde aprofundou a sua pesquisa sobre o kuduro, um estilo urbano de Angola, e do coupé décalé, dança e música urbana originária da Costa do Marfim. Retorna ao TBA após apresentar Santa de substrato autónomo, peça integrante do projeto OU.kupa em junho de 2023.