24 anos, um álbum acabado de lançar, “Marchita”, “Murcha” em português, depois de “Lo Sagrado”, com Charlie Hunter, e o EP “Primeras Canciones”, ambos de 2018. No seu primeiro longa-duração, Estrada canta a dor, o desamor, a tristeza da perda e o significado de viver depois disso. As palavras e a sua voz questionam-se sobre esse presente, mas também da continuação desse presente: afinal, como se sai disso, melhor, como se sai disso para fora. Equipada com a sua voz, igualmente frágil, poderosa, vulnerável aos sentimentos e disposta a abraçar a nudez do que está à sua volta. A voz e o cuatro venezuelano comandam este conjunto de melodias imprevisíveis, de sentimentos sem filtro. Ao fazê-lo, Silvana Estrada explora a fragilidade que daí advém – as suas canções são todo um processo de superação – e permite que haja surpresa quando as canções deixam entrar outros instrumentos. Na presença desses outros recursos, “Marchita” ouve-se ora como um álbum orquestral ou de jazz. Nada surpreendente, vindo de uma artista que assume a importância de Billie Holiday nas suas influências. Contudo, isso não explica a parcimónia dos arranjos, a delicadeza com que os acomoda e os deixa dançar à volta da sua voz: sem a entorpecer ou desviá-la da intensidade da procura/recuperação emocional. Às tantas, Silvana Estrada faz esquecer – a nós, o ouvinte – que isto é mais folk e pop do que um objecto de experimentação. Talvez pelo convite para entrar na sua música seja tão modesto e honesto. Ou porque é irresistível entregarmo-nos a um processo de superação com tanta entrega e vontade. Seja como for, depois de “Marchita”, percebe-se que está segura e pronta para conquistar. AS
Música
Galeria Zé dos Bois
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Silvana Estrada ao vivo na ZDB
Ao ouvir a voz de Silvana Estrada em “Un Día Cualquiera” fica claro que, apesar de transportar o seu cuatro venezuelano para todo lado, são as dinâmicas de como lhe saem as palavras, as frases, que elevam para outro patamar este milagre vindo do México.