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Exposições
Galeria Sá da Costa
Rua Serpa Pinto 19, 1200-443

Pontos de Intersecção

Exposição individual, escultura e fotografia de Martim Brion na Galeria Sá da Costa.

 

Repetição e variação como instrumento entre aparência e essência

Ainda que não entalhando ou moldando, e abandonando o pedestal, o trabalho de Martim Brion implica, não obstante, a obra escultórica no espaço e a relação desta com o observador. Neste domínio estrito, a especificidade da sua aparência ecoa a resposta histórica que o minimalismo abstracto encontra no objecto tridimensionsional a questões essenciais da pintura, activando-o enquanto recurso investigativo das relações entre forma, cor, escala e espaço, e da afectação da recepção e da percepção da obra de arte. Esta estratégia investigativa dialoga em reciprocidade com uma abordagem experimental ao objecto visual no interesse tautológico pelas mesmas relações. Constrita a sedimento complementar na apreensão da tridimensionalidade, a fotografia institui uma relação diversa entre o artista e o objecto, cujo estatuto é alterado quando registado em imagem, por sua vez autorando um outro e novo objecto.

Em ambos os casos, «Pontos de Intersecção» opera a omnipresença metodológica da serialidade, da repetição e da variação enquanto sistema estruturante de uma abordagem projectual. Preterindo a hierarquização ou segregação de processos e meios, o trabalho de Martim Brion transita entre a repetição de variações discretas de objectos que aparecem, tornam-se aparentes, e a pesquisa da raiz essencial e universal da forma, convocando um carácter metafísico consubstanciado por fracção e unidade, análise e síntese, especificidade e essencialismo.

As questões de ordem plástica e visual suscitadas apenas aparentemente se ancoram no esforço de um contexto histórico proclamante da pureza da obra de arte encerrada sobre si mesma. Pelo contrário, esfumando a fronteira entre arte, conhecimento e realidade, inspiram uma relação diferenciadora com o mundo e a vida, e convocam uma discursividade outra. Aquele carácter metafísico, associado ao fazer artístico, à ideia de obra de arte, e à experiência desta, indica a intencionalidade de uma observação, análise, questionamento e reflexão amplos dos fenómenos estabilizadores e, ou, transformadores da realidade e a representação do impulso humano pela verdade original no conhecimento de si próprio e do mundo.

Ricardo Escarduça