O “comparativismo climático” — que é actualmente realizado em tantos outros domínios do conhecimento como ferramenta de demonstração que estamos em vias de uma uniformidade galopante — visa precisamente expor que é a diversidade que está em risco. O risco que corre a biodiversidade encontra paralelo na diversidade cultural. Não é por isso novidade que tantos trabalhos no domínio cultural e artístico estejam em sintonia com os movimentos cívicos globais para a consciencialização climática. Sobre os ensaios publicados, apresentámo-los sucintamente: os dois textos de Isabel Cristina Pires, originalmente publicados no livro “Universal, limitada” (Caminho, 1986) inscrevem-se na ficção científica e descrevem cenários futuros definidos pela mudança climática; nos desenhos de Carolina Caycedo os rios são os narradores da sua própria história e surgem no contexto da disputa internacional pelo domínio das suas águas; Randi Nygård, no seu ensaio, reflecte sobre uma antologia interdisciplinar (editada em conjunto com Karolin Tampere e publicada em 2017) com o título da lei norueguesa, “The Wild Living Marine Resources Belong to Society as a Whole”, e propõe a inclusão de abordagens poéticas para melhor representar os animais e as plantas em termos legais; Isabel Carvalho, parte da nomeação de uma planta (o arbusto de Buganvília) para abordar o clima como metáfora, quer utilizada na “Viagem em torno do Mundo” de Bougainville quer como instrumento de crítica em “Suplemento à Viagem de Bougainville” de Denis Diderot; Ana Matilde Sousa estabelece um paralelo entre oscilações climáticas e a recepção internacional da cultura japonesa; o colectivo Coyote apresenta imagens retiradas do apelo à acção pelos movimentos internacionais Youth for Climate; Liv Strand, endereçando-se a diferentes sistemas ecológicos mostra como composições aparentemente distantes estão de facto enredadas e Catarina Rosendo ficciona algumas memórias com as quais aborda o terror e o sublime enquanto modelos da relação disfuncional dos humanos com a natureza.
LEONORANA é uma revista de investigação transdisciplinar, bilingue, com periodicidade irregular, que tem como principal objetivo o estudo da relação de conflito e cumplicidade entre as linguagens verbal e visual, apresentando o ensaio como género eleito para o desenvolvimento do pensamento especulativo.
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Tácita de Isabel Carvalho