Em tempos de imprevisibilidade nos mais diversos sectores, de rotinas despedaçadas, de futuro incerto e normalidade alterada, torna-se relativamente urgente dar palco à música desconcertante, desafiante e livre de rótulos. Black Country, New Road é um caso sério de rock descomprometido, da liberdade de estúdio à electrizante actuação em palco, da ferocidade punk à imposição jazz, mas não só, tornando o septeto londrino numa das revelações mais inesperadas de 2020.
Não se trata apenas de sete jovens (quatro rapazes e três raparigas) a elevar instrumentos a níveis decibélicos estridentes, trata-se também de uma demonstração de que as guitarras e a reinvenção do rock não caiu em desuso na Geração Z. Se em 2019, fomos testemunhas da epilepsia frenética dos Black Midi, agora podemos estar perante novo fenómeno de energia jovial rockeira sem limites, mas com muitas fronteiras por explorar. Os mesmos Black Midi que em Dezembro de 2020 subiram a um palco londrino ao lado dos Black Country, New Road para uma actuação inédita onde os dois grupos apresentaram uma série de versões dos Wham! e Mariah Carey.
“Sunglasses” editada no ano 2019, é uma canção reveladora da habilidade dos sete músicos, envolvendo o caos de diversos extremos urbanos, em que o violino embarca por doces melodias clássicas, marcadas por um saxofone boémio e feedbacks marginais. Num contexto de composição diverso, colocado por diversas influências e sete mentes distintas, realça-se a robusta spoken-word britânica de múltiplas referências contemporâneas, num espaço onde a banda procura esculpir e confrontar o tempo.