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Música
Galeria Zé dos Bois
R. da Barroca, 59 . 1200-049 Lisboa

Zíngaro – Vicente – Stadhouders – Trilla

Quando encontramos nomes como Luís Vicente, Carlos “Zíngaro”, Jasper Stadhouders e Vasco Trilla na mesma banda é inevitável pensarmos em algo como “olha, olha, temos aqui um arranjinho”. Mas, na verdade, o que achamos é que se trata de um desarranjo.

Um desarranjo musical. Não conseguimos imaginar que música poderá resultar desta combinação de figuras da “improvisação livre”. Só podemos adivinhar que personalidades tão diferentes tocarão necessariamente algo fora da caixa, e logo à partida da caixa estanque e predefinida em que a música improvisada, infelizmente, se tornou. Não que os músicos envolvidos não nos tivessem habituado já a apresentarem-se em contextos que lhes tiravam o tapete debaixo dos pés: assim foi a associação de Vicente com Jari Marjamaki ou com Théo Ceccaldi, a de “Zíngaro” com Annette Peacock, Otomo Yoshihide, Voice Crack ou Keiji Haino (ficam mais exemplos porque é já bem longo o seu percurso), a de Stadhouders com Marshall Allen ou Peter Evans e a de Trilla com Jamaaladeen Tacuma ou Ferran Fages. Em todos esses casos, fizeram diferente e fizeram novo. A música avançou, ganhou território.

Pois estes quatro voltam agora ao desconhecido, ao imprevisível. Que âncoras surgirão nas suas improvisações, sabendo nós que desejam estas assumidamente trans e pós-idiomáticas: as do free jazz, da música erudita, do rock que possam surgir no caudal de ideias destes combinados ADNs? As opções irão para uma estética do grito, expressionista, ou para algo de mais construído, minucioso, cerebral e introspectivo, tipo “câmara século XXI”? Tudo poderá acontecer, isto, o contrário disto ou outra coisa qualquer. Vicente coloca-se a meio das oposições definidas na história do trompete por Kenny Wheeler e Lester Bowie. “Zíngaro” tem uma costela Bela Bartok e outra que pende para o desconstrucionismo de Leroy Jenkins ou, mais ainda, de Ornette Coleman quando pegava no violino. Stadhouders age habitualmente entre a vertente Sonny Sharrock e a das guitarras do grupo punk The Ex. Trilla vem directamente do black metal, mas adora trabalhar as peles e os pratos com texturas totalmente abstractas, colocando o ritmo de lado. Pois, este concerto será um desconcerto. E ainda bem.

Rui Eduardo Paes

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