Em 2013, o nova-iorquino Steve Gunn esteve por Lisboa a beber vinhaça e a ouvir fado com Mike Cooper, uma das suas maiores influências musicais, numa visita-residência que resultou no disco Cantos de Lisboa (2014). Agora, no momento em que assinala quinze prolíferos anos de carreira, Gunn regressa à ZDB pela quarta vez, desta feita, a solo — em 2017, veio com os Outliners; em 2018, com o John Truscinski Duo; em 2019, com a Steve Gunn Band. Sem querermos fazer grandes prognósticos para o concerto, será útil lembrar que, no ano passado, Gunn lançou o seu 21º álbum, Other You, quase imediatamente seguido por um EP de reinterpretações do mesmo, Nakama, lançado em janeiro do corrente.
Em retrospectiva, no percurso de Gunn, pautado por uma colaboração constante com artistas de renome (além dos veteranos da folk Mike Cooper e Michael Chapman, temos Kurt Vile, Ryley Walker, Mdou Moctar, Julianna Barwick, etc.), assistimos à passagem do mero instrumentista ao cantautor, do guitarrista ao singer-songwriter, sem que, com isso, se tenha perdido qualquer do entusiasmo, do brio ou da pinta dos dedilhados e dos licks que conquistaram os seus primeiros ouvintes. Pelo contrário, o que caracteriza o resultado discográfico de Gunn é uma curiosidade insaciável mas paciente, e o seu virtuosismo guitarrístico apenas se tem adaptado ao amadurecimento do seu songcraft, entrando e saindo da ribalta sónica conforme o que pede cada tema. Com efeito, a ortodoxia do fingerpicking de Steve Gunn, leia-se primitivismo guitarrístico americano à la John Fahey ou Jack Rose, o country blues de um Bert Jansch ou de um J.J. Cale, etc., desde cedo se mostrou positivamente minada pelos ragas cósmico-montanheiros de Robbie Bashou, pelo experimentalismo vanguardista de La Monte Young ou pelas derivas psicadélicas dos Grateful Dead. Sem hesitação, Steve Gunn é um dos artistas incontornáveis no milieu da folk rock contemporânea, lado a lado com Amen Dunes, William Tyler, Kurt Vile, Ryley Walker, entre outros. AR
Inóspita é o projeto de guitarra solo da jovem lisboeta Inês Matos que lançou em Fevereiro de 2022 o seu primeiro LP, Porto Santo, produzido por Primeira Dama, apoiado pela Fundação GDA e pela Câmara Municipal de Porto Santo, com selo Xita Records. Inês toca guitarra desde tenra idade tendo estudado na Academia de Guitarra (onde é professora desde os 16 anos). Estudou na escola de Jazz Luiz Villas-Boas do Hot Clube de Portugal. Toca com bandas desde a adolescência e é membro de projetos como Primeira Dama, Chinaskee e João Borsch. Inóspita é a procura de um compromisso com o formato da canção e de uma abordagem própria ao seu instrumento, privilegiando a narrativa melódica apenas à guitarra.