Nesta exposição, Mattar une-se ao artista Milton Montenegro para criar um elo que transcende limites tangíveis. Inspirados pelo conceito de Samsara, o ciclo infinito de vida e renascimento, os artistas exploram a dualidade da existência humana e sua capacidade de transcender por meio da arte.
SAMSARA
Tudo o que nasce, está predestinado a florescer. O que floresce, inevitavelmente irá fenecer. Ao mesmo tempo que a ação de fenecer contém em si o sentido trágico e inevitável da morte, possui também, para aqueles que percebem e acessam dimensões outras, a possibilidade transcendental do encantamento.
Samsara, termo cultuado no budismo, refere-se aos movimentos contínuos dos ciclos da vida. Ele nos ensina que para escapar da inevitabilidade do que seria aparentemente o fim, é preciso alcançar um certo estado de sabedoria e iluminação.
Samsara, esta exposição, promove o encontro das obras artísticas de Milton Montenegro e Daniel Mattar, ambas uma ode à luminosidade e à capacidade de transcender. A arte, afinal, é um dos territórios mais fecundos para vislumbrar fronteiras que nos deslocam para além da realidade tangível.
Mattar, pela sétima vez aqui na galeria Brisa, convida outro artista para criar um instigante diálogo com sua obra. Suas pinturas realizadas sobre um fundo fotográfico, em parte sintetizam a paleta de cor das imagens geradas inicialmente por Inteligência Artificial e depois retrabalhadas pela inteligência intuitiva de Montenegro. Além desse ponto de contato formal, esse encontro poético dá relevo, sobretudo, ao potencial de reflexão e divagação extática que a aproximação dessas obras inspira.
Scalae, a série de Montenegro, compõe geometrias primorosas que a todo tempo nos orientam para o movimento de ascensão. A escada como símbolo é um instrumento de evolução pessoal e de ascensão espiritual. Nas filosofias esotéricas, os degraus são as várias etapas de evolução e de iniciação até se atingir a perfeição.
Mattar, por sua vez, investiga na sua Pequena Coleção de Horizontes um outro movimento: os olhos fixos nesses horizontes impulsionam um estado meditativo. Figura e fundo perdem fronteiras. O que era superfície revela-se como espessura que se prolonga além e aquém do quadro. Eis que, então, somos deslocados do espaço-tempo. Senha para desmaterializar egos e ingressar numa harmonia com o cosmos.
Seja no movimento vertical de ascensão, ou na espessura horizontal, a experiência da observação dessas obras nos conduz para uma percepção sensorial que se completa fora do espaço do quadro que encapsula essas imagens-foto-pinturas. Almejar a completude, afinal, implica em certa medida perder-se de si, para então, encantar-se.
Eder Chiodetto, 2023
Texto Curatorial: Eder Chiodetto
Montagem expositiva: Pedro Canoilas
Realização: Brisa Galeria