Agenda

Dança
7 fev | 00:00
Teatro do Bairro Alto
R. Ten. Raul Cascais 1A, 1250-268 Lisboa

Repertório Nº 2 | Repertório Nº 3

Apresentação do trabalho artístico de Davi Pontes e Wallace Ferreira.

Me aproximei da palavra “autodefesa” em 2018, enquanto escrevia meu projeto de mestrado no programa de Artes no Rio de Janeiro. Logo percebi que essa palavra, que nomeava espaços de reviravolta, também estava sendo usada para justificar momentos de violência policial, como no caso do assassinato do menino João Pedro Mattos Pinto, morto durante uma operação. A polícia alegou “autodefesa”, como em muitos outros casos, para justificar e autorizar o poder de obliteração dado pelo Estado às polícias e perpetuar a violência racial.

Davi Pontes 

Em 2018, Davi Pontes e Wallace Ferreira iniciaram a trilogia Repertório, composta por coreografias de autodefesa contra a violência física, imaginária e epistemológica. A obra procura desconstruir a ideia de violência, não de forma generalizada, mas investigando como cada corpo é capaz de elaborar as suas capacidades de se defender. Com base em estudos pós-coloniais, de género e de raça, esta investigação questiona a violência e procura dissipá-la. Através dessas coreografias, a dupla de artistas brasileiros faz uma reflexão crítica sobre o mundo que habita, mergulhando num processo coreográfico que passa tanto pela imaginação como pela intuição. O objetivo é libertar-se de constrangimentos implícitos e explícitos, confrontando as estruturas coloniais, raciais e cis-heteropatriarcais inerentes ao pensamento ocidental.  

O trabalho artístico de DAVI PONTES E WALLACE FERREIRA situa-se na interseção entre a dança, a performance e as artes visuais. As suas coreografias exploram as relações entre duração e exaustão, repetição e precisão, de modo a criar territórios híbridos entre a dança e a defesa.  

Em fevereiro, estreiam-se em Lisboa com a apresentação de três propostas que compõem o seu corpo de trabalho mais recente: o filme/instalação Delirar o Racial e as duas últimas peças da trilogia: Repertório N.º 2 e Repertório N.º 3. Para concluir este programa, convidamos o público a conhecer mais de perto o pensamento que sustenta as suas obras, numa conversa mais abrangente com a presença de artistas locais: Coreografia da Palavra.

DELIRAR O RACIAL

Delirar o Racial é um filme que explora a espacialidade sem as construções tradicionais de espaço e tempo. A dupla aproxima-se do pensamento da artista e filósofa Denise Ferreira da Silva para pensar um filme experimental que propõe imaginar a diferença sem separações e sem o fantasma da linearidade. Para isso, recorrem aos mesmos métodos aplicados nas suas coreografias: uma série de ações que lidam com a incerteza, a desordem e o provisório, com o intuito de refletir sobre uma ética atemporal voltada para as vidas negras.

REPERTÓRIO N.º 2

Partindo da questão “Como criar uma dança de autodefesa?”, Pontes e Ferreira desenvolvem uma coreografia que incorpora técnicas não convencionais e informais de práticas autodefensivas. Através da mimese, de padrões rítmicos e das poses, expandem as perceções de tempo e espaço, enquanto fazem uma leitura crítica da história da dança, investigando vocabulários de movimento que dialogam com a ética negra.

REPERTÓRIO N.º 3

Aprofundando a sua investigação na procura de compreender como é que um corpo, e tudo o que ele carrega, desenvolve a sua própria capacidade de se defender, Pontes e Ferreira continuam a ativar este repertório coreográfico de autodefesa, propondo um desafio às mentes e ideias, utilizando o corpo como meio para explorar diversas estratégias de resistência. Em Repertório N.º 3, gestos e poses de sedução dos universos queer e sexual infiltram-se na dança como materialização de um ato de resistência.

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