“LOOT – SPOILS OF WAR”, decorre do interesse crescente da artista pela forma como um novo modelo de significações foi gerado e moldado a partir do encontro histórico e civilizacional entre África e a Europa.
A materialização da ideia dá-se através da exploração do conceito de ‘apropriação’ que, se por um lado constitui, nesta exposição, uma referência direta aos artefactos saqueados e expropriados das suas origens no contexto da colonização, por outro lado, traduz a consistência plástica da obra da artista que, na apropriação “per se” encontra um instrumento de trabalho verdadeiramente essencial para a construção de um medium artístico que desde há muito envolve a reconfiguração e integração de textos, livros, mapas e imagens pré-existentes em colagens e instalações tridimensionais.
Transversalmente, Barbara Wildenboer utiliza no seu processo criativo uma combinação de processos analógicos e digitais que concorrem para a construção de uma obra diversificada e rica, composta maioritariamente por colagens, construções fotográficas, instalações em papel, esculturas fotográficas animadas digitalmente e book arts.
Tendo por base este modelo e o conceito de apropriação, ao longo dos últimos dois anos, a artista recolheu imagens de inúmeros artefactos antigos de proveniências distintas – de África, Oceânia, Grécia Antiga, Mesopotâmia e Américas – que atualmente integram as coleções de museus no mundo ocidental, na Grã-Bretanha, Alemanha, França e EUA.
Arredadas do contexto original e assembladas em sistemas visuais complexos, de carácter surrealizante, estas imagens passam por um processo autoral de re-significação, assumindo nesta exposição uma natureza renovada. Na sua génese está uma (re) leitura iconográfica que enquadra o peso histórico dos contatos de carácter intercultural.
Ao longo da exposição, assistimos a um ritual de re-significação iconográfica, de descodificação e recodificação da imagem, que concorre para a construção de uma visão crítica da historiografia e dos processos de apropriação e “fetichização” das culturas.
No epicentro da mostra e do debate que através desta a artista procura alavancar, encontramos um conjunto de instalações escultóricas monocromáticas que na sua configuração se assemelham a “escadas, postes, árvores, torres”, totens ou pequenos obeliscos, que “consistem numa assimilação de diferentes relíquias, figuras de fertilidade, máscaras, vasos e elementos arquitetónicos” diversos.
Estes artefactos de papel, agrupam-se arguta e sagazmente, numa acomodação refletida que evoca, de um modo idiossincrático e absurdo, a sistematização do Museu Ocidental para evidenciar as múltiplas formas como estes objetos podem ser percecionados.
“As esculturas de papel aludem à curadoria das exposições de artefactos arqueológicos que, sendo colocados em pedestais ou em vitrinas, são depois iluminados por forma a produzir a ideia da aura de uma obra de arte sobre objeto que está já muito afastada das suas funções originais. O resultado é uma espécie de documentário de ficção ou de documento ficcional que faz referência a coisas reais, mas que as transforma em algo mais.”
Os conceitos de originalidade e de autoria são elementos centrais nesta exposição de Barbara Wildenboer, que através da sua ação, num desafio declarado às convenções do mundo artístico, vem produzido contributos significativos para a inversão do pensamento numa era marcada pela necessidade de imposição de uma ideologia decolonial.
A exposição “LOOT” tem curadoria de Graça Rodrigues e Sónia Ribeiro e ficará patente até 19 de março, de 3ª feira a sábado, entre as 14h30 e as 19h00. A entrada é livre, obedecendo às necessárias normas de segurança e prevenção em tempos de pandemia.