A Fidelidade Arte e a Culturgest inauguram no próximo dia 9 de dezembro, pelas 22h, a exposição “Árvores” do artista Ângelo de Sousa. A exposição, a título póstumo, é o nono e último momento do ciclo Reação em Cadeia, conta com a curadoria de Bruno Marchand, e vai estar patente ao público até 4 de março de 2020 no Espaço Fidelidade Arte, em Lisboa, com entrada gratuita.
Ângelo de Sousa começou a desenhar figuras que se assemelhavam a árvores em 1958. Fê-lo toda a vida, de forma mais ou menos constante, mais ou menos intensa. Chamava-lhes árvores – não como quem dá um nome, mas como quem põe uma alcunha.
Ao invés de buscar o reduto arquetípico de uma árvore – a sua essência, o denominador comum a todas as árvores – o que parece ter interessado ao artista foi precisamente o contrário: explorar as margens do território formal daquilo que pode ser uma árvore: testar os limites dessa relação entre ela e um conjunto de formas que a “fazem lembrar”, perceber quão longe poderia ir sem perder esse elo invisível entre um registo e uma ideia.
O que faz de um nome uma alcunha é o seu caráter metonímico, a capacidade que ela tem de sugerir que uma parte da coisa pode servir para significar a coisa toda. Trata-se, portanto, de uma estratégia de redução, e a redução foi algo pelo qual Ângelo de Sousa pugnou durante todo o seu percurso. Como o próprio tão contundentemente afirmou, interessava-lhe “o máximo de efeitos com o mínimo de recursos, o máximo de eficácia com o mínimo de esforço, e o máximo de presença com o mínimo de gritos”.
Os desenhos que se apresentam nesta exposição do ciclo Reação em Cadeia são testemunho do encontro entre estes dois impulsos, metonímico e minimal. Do impulso minimal chegam-nos a tendência para a economia de meios e para a objetividade representativa – para o desenho se cingir à apresentação de um corpo uno, isolado, livre de adornos ou de articulações com outros elementos. Do impulso metonímico ficam as inúmeras aproximações ao que uma “árvore” pode ser, todas as variações de uma série que se desenvolve como uma força centrífuga ao invés de centrípeta.
As obras selecionadas permitem acompanhar o movimento que Ângelo de Sousa descreveu entre as árvores do final dos anos 1950 – virtuosas representações desse elemento vegetal, algumas delas bastante detalhadas – e as “árvores” da viragem do século – massas grumosas, como raízes nodulares ou como tubérculos que se verticalizam na altura da página A5, modelados de forma irreal pela ponta angulosa de uma caneta flomaster. Pelo meio, um ror de declinações, variações e alternativas que, juntas, prefiguram o grande mapa da potência da “árvore” aos olhos do artista.
A exposição “Árvores” é o nono e último momento do ciclo Reação em Cadeia, uma colaboração entre a Fidelidade Arte e a Culturgest, que propôs aos artistas participantes a escolha do artista sucessor. Com curadoria de Delfim Sardo (2019–2020) e Bruno Marchand (2020–2022), o ciclo implicou uma adequação dos projetos expositivos às caraterísticas da Fidelidade Arte, em Lisboa, e posteriormente na Culturgest Porto.
Por cada ano do ciclo é publicado um livro com extensa documentação dos três projetos apresentados, encontrando-se atualmente disponíveis os dois primeiros volumes.
O ciclo iniciou-se em 2019 com um programa que, cumprindo com esta lógica de sucessão, contou com a participação dos seguintes artistas:
- #1 Ângela Ferreira (Moçambique, 1958)
- #2 Jimmie Durham (EUA, 1940)
- #3 Elisa Strinna (Itália, 1982)
2020
- #4 Evan Roth (EUA, 1978)
- #5 Alicia Kopf (Espanha, 1982)
- #6 Las Palmas (Portugal)
2021
- #7 Rodrigo Hernández (México, 1983)
- #8 Silvia Bächli (Suíça, 1956)
- #9 Ângelo de Sousa (Moçambique, 1938 – Portugal, 2011)