Segundo o texto de apresentação no Spotify da banda, a chave para o som dos Ducks Ltd. são «encantos simples, tal como na música que o inspirou», e citam várias bandas de indie pop dos anos 1980 neste sentido, como Felt, Orange Juice, Close Lobsters, McCarthy, The Go-Betweens e projectos associados à discográfica independente Flying Nun Records. Porém, a genealogia da jangle-pop (apesar do termo não ser usado na imprensa da altura) remonta à década de 1960, e a versão dos Byrds da «Mr. Tambourine Man» do Bob Dylan, canção que contém a expressão «in the jingle-jangle morning», é talvez a que melhor encapsula toda a estética em questão: o repique brilhante dos acordes abertos nas guitarras eléctricas, as melodias planantes sobre harmonias maiores e, talvez o mais importante mas também o mais incomunicável, um sentimento ambíguo, nostálgico, simultaneamente jubiloso e melancólico (ouvir o single «18 cigarettes» dos Ducks Ltd.). A coisa ganhou forma depois de McGreevy e Lewis se conhecerem em tour, enquanto tocavam em bandas diferentes de Toronto, e de constatarem uma vontade mútua em desenvolver trabalho nesta sub-categoria do rock. Agora, lançado o seu EP Get Bleak em 2019 pela Bobo Integral — depois re-editado em 2021 pela Carpark —, de terem tocado com nomes como The Goon Sax, Weyes Blood e Juan Water e de terem chegado aos críticos da Pitchfork, da A. V. Club e da NME, os Ducks Ltd. chegam à ZDB em formato quarteto, numa das paragens na sua extensa tour de 2022 pela Europa e pela América do Norte. AR
A última vez que os portugueses Hause Plants tocaram na ZDB estávamos em março de 2021, numa altura em que já ninguém podia ouvir falar de bedroom pop (irra, confinamento!), mas em que toda a gente se aproximava forçosamente dela. Na verdade, apesar do seu processo criativo partir de uma configuração caseira, mais ou menos solitária e em torno do guitarrista e cantor Guilherme Correia, e apesar desse output se aproximar das qualidades «etéreas» da dream pop e do shoegaze, a banda diz que «as canções de Hause Plants […] existem para serem ouvidas e tocadas ao vivo», apontando, por outro lado, para as performances energéticas das bandas de post-punk dos anos 80. Neste seu regresso ao Aquário, no contexto de uma tour portuguesa, constatamos que os Hause Plants, que contam também com João Simões (guitarra eléctrica, teclados e segundas vozes), Dani Oliveira Royo (guitarra eléctrica) e António Nunes da Silva (bateria), entretanto não só saíram do quarto, como saíram do país! Mudaram-se para Brooklyn, Nova Iorque, deram por lá uns gigs e editaram um novo EP pela californiana Spirit Goth Records, intitulado Sleeping With Weird People e onde se nota uma mudança estética com a introdução de sintetizadores que incitam à dança. AR