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Cultura No Chiado
Brisa Galeria
R. Vítor Cordon, 44, 1200-484 Lisboa

Brisa Galeria acolhe a exposição “linhatravelâmina”

A exposição é um jogo de encontros entre linguagens poéticas, visuais e aproximações formais que derivam de modos de fazer, empatias e interrogações das propostas artísticas dos seus autores: Maria Ribeiro, Miguel António Domingues e Daniel Mattar.

O título da exposição é, do meu ponto de vista, um reflexo desse jogo formal e relacional que procurei encontrar nas soluções e na materialização das obras de cada artista no espaço da galeria, bem como no espaço partilhado entre cada obra: uma linha, uma trave, uma lâmina – linha, trave, lâmina. Fazer um outro espaço.

· linhatravelâmina é, numa forma livre e inventada, uma aproximação a um trava-língua, mas também uma chave, não propriamente um índice, para observarmos no trabalho dos artistas as diversas relações entre estes elementos, que, aparentando pertencer apenas aos universos da geometria, da construção e do quotidiano, são também materialização da estrutura das obras, e assim objectos apropriados e integrados na criação artística.

A arquitectura da sala foi determinante no diálogo tripartido que antecedeu a exposição e convocou possibilidades diversas, assim como os encontros que são determinados por algumas obras que redefinem um novo desenho do lugar, por vezes criando intervalos, grandes planos, cenários, apontamentos, um diálogo entre obras abstractas que indiciam presenças, memórias, palavras. 

Uma das obras de Maria Ribeiro é como uma linha ou uma lâmina de cobre que se desenvolve no movimento contínuo entre a parede e o encontro com o plano do chão, prolongando-se na sua extensão pelo espaço da galeria e marcando o trânsito do corpo do espectador no espaço. Os reflexos, brilhos metálicos, na sua materialidade orgânica, chamam-nos a pensar no mundo natural em contraponto com uma estrutura/trave construída em madeira.

Miguel António Domingues apresenta uma obra de assinalável dimensão, entre o desenho e a escultura. Esta obra, trabalhada em papel vegetal, pigmento e metal, intitulada Big bird cut, cria relações espaciais e visuais que surpreendem o olhar e reconfiguram a nossa percepção do espaço. É uma peça muito subtil, contrariando neste aspecto a sua escala monumental e uma outra obra do autor, também construída sobre papel vegetal, além de três lâminas de metal para serrar. Em todas as suas obras sobressai uma aura poética e teatral.

Nas peças dos três artistas observamos uma métrica rigorosa, uma atenção à medida que é constante e tem particular relevância na obra de Daniel Mattar. Uma das suas pinturas matéricas é central na sua participação na exposição. A sua forma é como um trapézio desarticulado da sua matriz geométrica, enquanto a cor e a textura são difíceis de nomear, próximas das terras e dos ocres escuros num monocromo muito singular. A inclinação da composição da grelha, tão característica desta fase do seu trabalho, parece em permanente movimento e responde à arquitectura do espaço. Algumas outras obras de dimensão mais reduzida guiam-nos a uma nova fase de trabalho, que se revela numa obra de perturbantes velaturas.

Entre a linha, a trave, a lâmina e todas as outras obras expostas, há modos de fazer, ler e partilhar as obras dos artistas, partilhar o nosso olhar e desenhar um outro espaço.”

linhatravelâmina

João Silvério
Curador

Sobre os Artistas:

MARIA RIBEIRO 
Maria Ribeiro nasceu em Lisboa, em 1983, cidade onde vive e trabalha. Concluiu a licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2017 e o mestrado em Escultura na mesma Faculdade em 2020. Frequentou anteriormente o Instituto de Artes e Ofícios (IAO) (2002/2005) na Fundação Ricardo Espírito Santo, onde veio também a lecionar. Tem dirigido desde então inúmeras ações de formação em construção e escultura em escolas, museus e outras instituições culturais. Desde fevereiro de 2022 coordena e leciona o curso intensivo de escultura em madeira na escola A BASE e faz parte do corpo docente do Colégio Moderno. Na sua prática artística, desenvolve métodos transdisciplinares que se concretizam numa abordagem entre a escultura e instalação. Procura explorar estratégias que dão continuidade à investigação e ao corpo de trabalho desenvolvido no âmbito do mestrado: “Espaços de Intervenção Escultórica Entre a reflexão e o corpo ativador“. Este projeto explora a perceção e a interpretação subjetiva da obra artística a partir da experiência física e perceptiva do espectador, ativada pelo reflexo em inúmeras obras. O espaço envolvente é também um elemento fundamental da sua prática artística que procura promover novas experiências sensoriais. Tem participado em várias exposições coletivas, destacando-se A Mais Alta das Torres Começa no Chão (Base, Lisboa, 2024), Um Lugar Depois do Outro (289, Faro, 2023) e na Galeria Diferença (Lisboa, 2021); Lareira (Casa- Atelier Vieira da Silva, Lisboa, 2020), e Galeria Diferença 40 Anos (Lisboa, 2019).

MIGUEL ANTÓNIO DOMINGUES 
Miguel António Domingues, 1982, Lisboa (Portugal). Vive e trabalha em Lisboa.
Estudou pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (2000/02), concluiu uma licenciatura e mestrado ( Master II) no atelier de desenho da Academia de Belas-artes de Bruxelas (2002-2008) e, entre 2010 e 2012, uma Pós-graduação (Meisterschülerstudium) na Academia de Belas-artes de Dresden, Alemanha.
Expõe desde 2006 , na Bélgica, Alemanha, Áustria e em Portugal.
Recebeu em 2007 o Prémio Danny Vienne da Académie Royale de Beaux Arts de Bruxelas, foi bolseiro do programa DAAD entre 2010 e 2012, e obteve em 2023 o primeiro prémio de arte Santander.
O seu trabalho (no cruzamento do desenho, da escultura e da instalação) foi apresentado em contextos mais institucionais: Ve.sch Kunstverein (Wien), Gesellschaft für Konkrete Kunst (Bonn), Cordoaria Nacional e Culturgest (Lisboa); Hochschule für Bildende Künste, (Dresden), Städtische Galerie – Emschertal Museum (Herne), Galerie Duqué-Pirson e Centre Culturel Jacques Franck (Bruxelles).
Assim como noutros contextos menos institucionais, para os quais desenvolveu projectos site-specific, nomeadamente : Rua Angelina Vidal (Lisboa – antiga alfaiataria do seu avô), La Senne, Abaque – bureau d’architecture, Friche (antiga fábrica de discos PIAS, Bruxelas) e Fonderie & Manufacture de Métaux (Bruxelas, uma fábrica de fundição de chumbo, onde trabalhou). Este último projecto deu lugar a uma edição de autor, que reúne as fotografias de uma instalação de desenhos naquela fábrica.
O seu trabalho integra as colecções PLMJ (Portugal), Städtische Galerie – Emschertal Museum (Alemanha) e colecções privadas na França, Bélgica e Alemanha.

DANIEL MATTAR 
Daniel Mattar (Rio de Janeiro, 1971) é um artista cuja prática abrange a fotografia, a pintura e a escultura, articulando uma investigação sobre texturas, materialidade e tridimensionalidade. Graduado em Arte pela PUC-Rio, desde cedo identificou na fotografia uma forma de expressão que orienta boa parte de sua produção. Nos anos 1990, residiu no Japão, onde aprofundou pesquisas sobre Zen Budismo e caligrafia japonesa, elementos que reverberam em sua obra através da exploração de gestualidade, vazio e equilíbrio.
Em 2018, Mattar estabeleceu-se em Lisboa, ampliando sua investigação artística ao integrar diferentes técnicas e linguagens. Seu trabalho explora a interseção entre fotografia, pintura e escultura, propondo uma reconfiguração dessas práticas. Utilizando pigmentos puros aplicados sobre superfícies diversas, suas composições dialogam com a luz, sombra e a tensão entre planos, criando dinâmicas visuais que destacam o jogo entre precisão geométrica e fluidez orgânica.
A obra de Mattar frequentemente constrói uma métrica rítmica na organização formal e cromática, evocando a noção de tempo e movimento no espaço pictórico.
Desde 1988, Mattar tem participado de exposições individuais e coletivas em instituições renomadas, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Deji Art Museum, na China. Suas obras integram importantes coleções públicas e privadas no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia.

Sobre a Brisa Galeria: 
A Brisa Galeria é uma galeria de arte contemporânea localizada no bairro histórico do Chiado, Lisboa. Fundada em 2018, a Brisa explora a multidisciplinaridade entre fotografia, pintura, escultura e performance através de exposições com artistas contemporâneos e curadores convidados. A galeria tem o compromisso de abraçar um diálogo artístico diversificado por meio de eventos colaborativos regulares, criando um ambiente propício para a troca de projetos, experiências e sensações entre artistas e o novo público de colecionadores e entusiastas da arte.

Horário: Terças a sábados das 11h às 19h.

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