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Música
Galeria Zé dos Bois
R. da Barroca, 59 . 1200-049 Lisboa

Astrid Sonne & Maria do Mar

Da insuspeita Dinamarca temos assistido a uma nova vaga de artistas sonoros convictos em delinear outros rumos na música contemporânea.

À cabeça virá todo o laboro intocável da Posh Isolation que nos últimos anos nos tem apresentado Puce Mary, Croation Amor ou Vanessa Amara. A Escho é imediatamente outro selo editorial cujo leque de talentos apenas sublinha a força criativa dinamarquesa deste momento. Assinando por esta última, a compositora Astrid Sonne é um astro em ascensão. A cada álbum acrescenta mais uma peça essencial num percurso surpreendente e intimamente conectado com os nossos tempos.

Com um passado em redor do estudo clássico, é na ambiguidade benigna da electrónica que encontrou um eco maior para as suas composições. É nos terrenos incertos ou na penumbra da luz que Sonne extrai cor e forma. A expressividade emocional e a exploração sensorial do seu trabalho unem-se numa dimensão imensamente pessoal. A delicadeza das cordas acústicas revela-se sob complexos mantos de sintetizadores e melodias enviesadas, em busca de uma certa vibração eterna.

Outsider of your lifetime surgiu como projecto extra-musical em que o disco veio acompanhado de uma experiência visual, disponível no site de Sonne, e a cargo do artista Aske Zidore. Já este ano Ephemeral Camera Feed recupera uma belíssima gravação no festival Atonal, em Berlim. Embora familiar, não soará em nada revisionista; na verdade, aprofunda todo o espectro sub-sónico que habita, extraindo uma mão cheia de insights valiosos. Profundo exercício de encontro, partilha e comunhão que de resto tem resgatado elogios por diversas publicações de destaque. Existe, pois, um momentum em redor da artista, impossível de não lidar com tremendo entusiasmo. Tê-la por cá é um pouco tomar pulso a alguma da música mais fascinante destes dias. NA

ÁGUAS TORTAS, Vídeo + Violino solo com pedais de efeito.

No solo ÁGUAS TORTAS há um convite implícito à imersão nos sons e imagens de águas que se movem por caminhos sinuosos, num fluxo contínuo, de ritmos variados, em diálogo com um violino. Como se de uma lei do mundo se tratasse, vários aparentes contrários se fundem e fluem neste caminho. Contrapondo sons da natureza e acústicos com sons de violino processados electronicamente por pedais, imagens reais e manipuladas, improvisação e imagem em movimento, a memória e o tempo-real, o instrumento e seu duplo, o físico e o virtual, o líquido e o sólido rochoso, a água bem escasso, a sua aparente abundância, e a real escassez… Uma dança para Heraclito. MM

Maria do Mar, violinista, compositora, professora e activista, natural de Lisboa, com um trajecto iniciado na música clássica e ensino, e recentemente em projectos de música experimental e improvisada. Tocou em várias orquestras e foi dirigida por vários maestros dentro e fora do país e leccionou em vários conservatórios e escolas nacionais, onde procurou formas alternativas de ensino. Os seus alunos apresentaram-se com sucesso a solo em concertos e concursos nacionais.

De uma actividade eclética, destacamos participações em, bandas sonoras de filmes nacionais, O Arquiteto, Paulo Rocha (1993), Estive em Lisboa e Lembrei de Você (2018) de José Barahona, Ela é uma Música (2019) de Francisca Marvão, Caos e Afinidade de Pedro Gonçalves (2020), música original para “Há uma profeta nas Olaias, tenham cuidado!” (2021) de Lucas Camargo de Barros. Integrou várias peças de teatro, como o Impromptu de Versalhes de Molière (2016) a solo no Teatro Nacional D. Maria, com encenação de Miguel Loureiro, música para (RE)EXISTIR (RE)ENCONTRAR, de Aldara Bizarro e Sónia Baptista, no Teatro S.Luiz (2022); performances, com Sónia Baptista, Assentar sob as Águas (2016), Maria Radich BooKiNg PoiNt (2017), Solos, Variáveis Azuis Luminosas, em O Armário (2018), Desenhar o Som (2021), no Desvio e Igreja da Misericórdia em Leiria. Este ano estreou com a abertura do Festival Giacometti, a primeira peça do Ciclo Grão – ContrAtempo, na aldeia de Peroguarda, onde cruza linguagens: violino/violeta solo, recolhas, field recordings, participação da comunidade, instalação e vídeo. Tem vários discos editados, em breve sairá o primeiro disco do colectivo LANTANA.

Desenvolveu trabalho de improvisação com “Butch” Morris, Miguel Mira, Carlos “Zíngaro”, Sei Miguel, Helena Espvall, Ricardo Freitas, Yaw Tembe, Paulo Chagas, Ernesto Rodrigues, Joelle Léandre, Juan Calvi, Adriano Orrú, Luíz Rocha, Lula Pena, entre outros, apresentando-se em concertos, ciclos e festivais nacionais e internacionais, como MIA, Creative Fest Lisboa e Berlim, Underscore – Festival de Música, Som, Imagem em Movimento e Arquivo, Jazz no Parque de Serralves com Joelle+5, BCN Impro Fest em Barcelona e Festival Urogallo em Léon, Magasessions, Lisboa Soa, Jazz ao Centro em Coimbra, Jazz 2020 na Fundação Calouste Gulbenkian e é membro de vários grupos como LANTANA, Fungaguinhos, Duo Suprasónico, Mayhuma, ou PEntE AtómIco.

Faz programação/curadoria, produção de eventos, destacando-se “Pequenas Notáveis”- Um Mini Festival sobre o Feminino, no bar Pequena Notável em Lisboa (2018), ImproJam,(2018-2020) na Cooperativa Penhasco, Open Call para músicos Queer, Amoras Silvestres, programou duas edições do festival de música, performance, palavra e debate queer, QueerFest (2020-2021). Atualmente faz curadoria com Felice Furioso do Ciclo DeScomposição Transitória na SMUP, desde 2021.

No final do ano de 2019 foi nomeada na revista Jazz.pt, para Melhor Músico ou Grupo Nacional.

Busca no seu trabalho um universo amplo, o desenvolvimento de uma linguagem pessoal, com fronteiras estéticas esbatidas onde se abrem possibilidades transversais e sem limites criativos.

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