A inclusão de elementos tradicionais na música popular não é novidade, mas é refrescante a forma como têm entrado na música electrónica nos últimos anos. Há várias responsabilidades e responsáveis, não é fenómeno exclusivo de um local, mas tem sido interessante ver como se espalha e desenvolve, desde Rosalía a Marina Herlop, por cá com Bandua ou Ana Lua Caiano. Esta última entregou no ano passado “Cheguei Tarde a Ontem”, EP-fenómeno com seis canções, pouco menos de vinte minutos, de um óptimo híbrido entre o que é pensado como tradicional e modelos e linguagens da electrónica. Em paralelo, a voz e as melodias que cria ondeiam esses dois universos com uma classe assinalável. Dava vontade de ouvir mais e se há um defeito nesse grupo de seis canções – se se pode chamar isso – é mesmo esse, o o de criarem a vontade de ouvir mais, mais.
As boas notícias é que não se precisou de esperar muito. Meses após “Cheguei Tarde a Ontem”, Ana Lua Caiano tem um novo corpo de canções para apresentar e tocar ao vivo. “Se eu Dançar é só Depois” é um novo EP, novo passo, para traçar o caminho de 2023 e mostrar como a música/compositora continua a fazer evoluir o som dentro destes moldes. Com um já óptimo currículo em trabalho de som – bandas-sonoras, instalações -, Ana Lua Caiano, de 24 anos, continua a desafiar-se a criar pop que fundo o tradicional e o moderno, com um vasto recurso a loops, beat-machines, sintetizadores, teclas, bombos e o uso da voz e de melodias montadas ao ritmo da exigência: ora calmas ou na correria do quotidiano. Aquela vontade, ou necessidade, de não chegar tarde a ontem. AS