Concerto Esgotado | Atenção aos portadores de reserva. Estas têm que ser levantadas no dia do concerto, entre as 21h e as 21h45, hora a partir da qual ficam sem efeito!
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Que significado podem ter expressões como “a grande sensação do indie-rock”, “a melhor nova banda desta década”, a anglo-saxónica “next big thing”? Uma análise, de lupa na mão, conclui que normalmente têm a relevância do lugar-comum, a mediocridade do cliché. Ora, esse não é caso dos Black Midi (Geordie Greep, Cameron Picton, Matt Kelvin e Morgan Simpson) elogiadíssimos na imprensa musical e à beira de lançar o seu primeiro álbum, Talking Heads.
Reformule-se, sem receio: são de facto uma das bandas mais excitantes do rock actual e esta afirmação sustenta-se em dois singles “bmbmbm” e “speedway”. Numa época em que o amor pelas guitarras se calou e a pop se deleita em mutações com a tecnologia (apagando o humano) ou absorve os protocolos da música séria, como é refrescante encontrar uma banda como os Black Midi. Adolescentes no fim da adolescência (há neles qualquer coisa que lembra o desembaraço juvenil de uns Undertones), fazem jus aos antepassados. Nasceram nos palcos, ao vivo, lançaram singles, dão concertos. São uma banda (frise-se), uma banda que faz música, que canta e toca, que faz o que tem e sabe fazer. Música ruidosa, melancólica, dançável, violenta, suave, urgente, plácida. Rock? Sim, a ter fundamentos, eles estão no rock, num rock multiforme (This Heat, The Fall, Captain Beefherat, Tortoise, Deerhoof), de contornos, de formas já desenhadas pela IDM, pela electrónica, pelo noise mais informe, pelo improviso mais livre.
Música deste tempo, mas que sabe mergulhar nas profundezas e pescar as pérolas que a história do rock e da pop deixou escondidas sob os corais. É desse mergulho no passado feito presente, que os Black Midi extraem a sua música, para, com ela, viajarem a múltiplos lugares. Nessa viagem, que também é a nossa, cantam, com fúria e mel, a promessa de um tipo de rock que se infiltra noutros géneros e se deixa infiltrar por outros géneros. Com a urgência física e espiritual dos sonhos e visões da juventude. Reconheçam-na e celebram-na nesta noite. JM