Cesário Verde
Cesário Verde (1855-1886), o grande poeta, passava muito pelo Chiado, sobretudo vindo da Rua dos Fanqueiros, onde o pai tinha a loja de ferragens. “Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal sotunidade, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / Despertam-me um desejo absurdo de sofrer”. Ah, como é belo “O Sentimento dum Ocidental”! Mas o poeta tinha humor. E não se deixava ficar… Eis uma típica dele e do Chiado!
A porta da «Havaneza» no Chiado era local certo para reunir os janotas e os más-linguas. Era lá que se juntavam os galãs ao domingo para ver sair as meninas elegantes da missa dos Mártires e apreciar as beldades que desciam a calçada, verdadeira passagem de modelos. Na Havaneza vendiam-se os melhores puros de Lisboa e os mais afamados tabacos portugueses e estrangeiros. Sabemos que Cesário Verde era uma fraca figura, tímido, macilento, sempre entretido com os seus botões. Um dia, como de costume, descia a rua Larga de Santa Catarina, o nosso Chiado, vindo do Bairro Alto, onde deixara um poema no «Diário de Notícias». Um dos habitués da porta da tabacaria que, por qualquer razão, implicava com Cesário, vendo-o, não se conteve e comentou alto e bom som: – Olha o Cesário Azul… O poeta parou, serenamente fitou o engraçado e apenas disse: -«Com que então troca-tintas»…
Guilherme d’Oliveira Martins