As Irmãs Gelli abordam a criação artística como um processo que envolve a presença, tanto a delas quanto a do espectador. Suas obras sugerem um encontro direto com a matéria transformada, um exercício que nos afasta da virtualidade e nos traz de volta ao corpo e ao espaço tangível. Há um jogo contínuo entre o fazer artístico em dupla e o convite à participação do público, gerando uma experiência que é simultaneamente visual e corpórea. A presença compartilhada no espaço da obra torna-se, assim, inescapável.
Em contrapartida, Daniel Mattar apresenta uma investigação visual sobre a coexistência do movimento e da permanência, utilizando faixas fluidas de cor que remetem à transitoriedade e pedras de cerâmica que simbolizam a permanência. Suas composições criam um campo onde forças opostas — representadas pelo Yin e Yang — se encontram e dialogam. Mattar evoca uma meditação sobre a impermanência, convidando o público a experienciar a interseção entre o espiritual e o material, entre o que flui e o que permanece.
Nesta exposição, a galeria se torna um espaço de ressonância entre dois polos: de um lado, a materialidade corpórea e a presença física das obras das Irmãs Gelli; do outro, a fluidez espiritual e a permanência visual de Daniel Mattar. Ambos os trabalhos propõem ao espectador uma reflexão sobre o encontro e o equilíbrio, trazendo à tona a complexidade da experiência sensorial e espiritual no campo da arte contemporânea. (Brisa Galeria)
Sobre os Artistas:
IRMÃS GELLI
Alice e Gabi Gelli são irmãs, artistas e cariocas. A pesquisa da dupla se debruça sobre a perspectiva do encontro, da troca e do tempo. A busca pela materialidade corpórea lhes interessa muito diante da digitalização excessiva dos espaços. Há um desejo em direção a um resgate das trocas físicas, o olho no olho e o impacto da obra sobre o corpo. Das escalas mais variadas – da delicadeza dos miúdos até a extravagância dos monumentais – as artistas têm um fascínio pela repetição, pelo macro e pelo micro.
O ritmo do trabalho vai na contramão da urgência do mundo. Apesar de serem extremamente aceleradas, a dupla procura tempo, calma e respiro. A escolha dos materiais impacta diretamente nesse tempo. Trabalhar com papel requer presença, senão suja, rasga, corta. Trabalhar com cera requer atenção, senão queima, derrete demais, seca. Respeitar o desejo dos materiais e sobretudo o tempo de cada um. A pressão constante pela produtividade dificulta a espera que é desafiadora porém constituinte do trabalho. O compromisso com o fazer artístico resgata o tempo-espaço necessário da obra.
As artistas já participaram de algumas das maiores feiras de arte do Brasil como Sp-Arte e ArtRio, assim como várias exposições, no eixo Rio e São Paulo.
DANIEL MATTAR
Daniel Mattar (Rio de Janeiro, 1971) é um artista cuja prática abrange a fotografia, a pintura e a escultura, articulando uma investigação sobre texturas, materialidade e tridimensionalidade. Graduado em Arte pela PUC-Rio, desde cedo identificou na fotografia uma forma de expressão que orienta boa parte de sua produção. Nos anos 1990, residiu no Japão, onde aprofundou pesquisas sobre Zen Budismo e caligrafia japonesa, elementos que reverberam em sua obra através da exploração de gestualidade, vazio e equilíbrio.
Em 2018, Mattar estabeleceu-se em Lisboa, ampliando sua investigação artística ao integrar diferentes técnicas e linguagens. Seu trabalho explora a interseção entre fotografia, pintura e escultura, propondo uma reconfiguração dessas práticas. Utilizando pigmentos puros aplicados sobre superfícies diversas, suas composições dialogam com a luz, sombra e a tensão entre planos, criando dinâmicas visuais que destacam o jogo entre precisão geométrica e fluidez orgânica.
A obra de Mattar frequentemente constrói uma métrica rítmica na organização formal e cromática, evocando a noção de tempo e movimento no espaço pictórico.
Desde 1988, Mattar tem participado de exposições individuais e coletivas em instituições renomadas, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Deji Art Museum, na China. Suas obras integram importantes coleções públicas e privadas no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia.
Sobre a Brisa Galeria:
A Brisa Galeria é uma galeria de arte contemporânea localizada no bairro histórico do Chiado, Lisboa. Fundada em 2018, a Brisa explora a multidisciplinaridade entre fotografia, pintura, escultura e performance através de exposições com artistas contemporâneos e curadores convidados. A galeria tem o compromisso de abraçar um diálogo artístico diversificado por meio de eventos colaborativos regulares, criando um ambiente propício para a troca de projetos, experiências e sensações entre artistas e o novo público de colecionadores e entusiastas da arte.
Texto curatorial: Cristiana Tejo
Cocktail de Lançamento da Exposição: 7 de novembro de 2024 das 18h às 21h
Horário: Terças a sábados das 11h às 19h.