Participou igualmente no álbum Língua, de Octa Push, um dos mais celebrados do duo lisboeta. E por fim, chegados a 2020, nova década e novo milénio, parece que o ano também traz nova vida para a cantora e compositora que agora edita “Da Barriga”, primeiro álbum em nome próprio.
Recorrendo a uma abordagem bem mais exploratória que nos projectos anteriores, a natureza quase amazónica da sua música revela-se plena de potencialidades. Cria brechas num tecto substancialmente urbano, sustentado em loops e esboços de batidas resgatadas à memória da dancehall ou grime. Meras impressões ou simples pistas para expressar talvez um pouco o viveiro sonoro que felizmente parece não assentar num formato estanque.“Deusa da Poda” foi uma das canções mais fortes a surgir nos últimos anos por cá, um brilhante exercício de semântica e ritmo, oferecendo algo que definitivamente parece fazer avançar a música cantada em português (um caminho já trilhado por B Fachada, Aquaparque ou Calhau!). As estórias oníricas que partilha revelam-se numa benigna febre tropical que toma conta deste conjunto de temas fora deste mundo e deste tempo. Da forma aquosa com que cada elemento flui até à importância do respiro e do silêncio como pontuação, paira um teor genuinamente orgânico, ainda que as estruturas sejam alimentadas por máquinas analógicas e digitais. Pelo meio, as melodias hipnotizantes que reinam e um espectro sónico que não esconde uma beleza exótica implícita no processo. Processo esse em constante movimento. NA