As mudanças, que caracterizam toda a sua obra, foram neste tempo tão radicais que os quadros e as pesquisas do artista poderão, por vezes, julgar-se trabalho de diferentes autores. Esta exposição permite avaliar o que foi mudando no contínuo trabalho de Pomar e conhecer as condições, o contexto e os resultados das sucessivas linguagens, ou séries, ou fases, sem que as datas 1960-1975 estabeleçam fronteiras definitivas entre os anos imediatamente anteriores e aqueles que logo se lhes seguem. Muitas das obras agora expostas, provenientes de diversas coleções privadas e públicas, não são vistas em público há muitos anos.
Curadoria Alexandre Pomar e Óscar Faria
Inauguração 10.07.2024 | 17h00
Em 1963, Júlio Pomar mudou-se de Lisboa para Paris e, depois da série bem conhecida das Tauromaquias, dedicou-se a novos temas de pintura, como as corridas de cavalos, o metropolitano e o Catch – luta livre profissional que via em Paris, na Salle Wagran, perto de sua casa –, explorando a representação formal do movimento, da velocidade, das forças em tensão. Realizou uma sequência intensa de exposições de sucesso nas duas capitais, incluindo no Museu do Louvre, em 1971.
Pomar acompanhou com atenção crítica a muito rápida evolução das vanguardas do tempo, interessando-se pelo informalismo gestual, pela Nova Figuração e pela Pop anglo-saxónica, além de estudar os «clássicos», como Uccello, Ingres, Courbet e outros. Embora sensível às ruturas da época, não seguiu grupos ou escolas, num processo muito pessoal de questionamento e experimentação da sua arte, que não era fácil de seguir pelo público e pela crítica. Em 1966, destruiu dezenas de quadros acabados ou em execução (documentados nos Relatórios de Bolseiro que enviou à Fundação Gulbenkian entre 1964 e 1966) e no catálogo Void III, publicado pelo Atelier-Museu Júlio Pomar. Logo depois, passou a criar assemblagens com materiais encontrados, obras que se mantiveram confidenciais durante dez anos e que serão agora expostas.
A revolução da sua pintura afirma-se com as séries dedicadas ao Rugby e a Maio de 68, que não foram expostas na época, por terem sido todas adquiridas por um grande colecionador e amigo, Jorge de Brito. Seguiram-se variações sobre O Banho Turco de Ingres – que lembram Matisse e comunicam com os Grandes Nus Americanos de Tom Wesselmann – e um ciclo de retratos, obras em que é nítida a relação com a pintura Pop norte-americana. Está presente nesta exposição um largo núcleo de 1968-72: Mesa dos Jogos e Odalisca com Escrava, Tétis e Banho Turco, o que esteve no Louvre, entre outras apropriações de Ingres.
Esta aproximação à Pop – interessavam-no em especial artistas anglo-saxónicos, destacando Rauschenberg, e referindo, em cartas de 1965, Allen Jones, Kitaj, Peter Philips e Oldenburg – não reivindicada como tal, nem então reconhecida, dá lugar às reinterpretações de Van Eyck, Courbet, Gris, bem como a um longo período de retratos, que se prolonga por cinco anos desde 1970. Pomar retratou vultos da cultura portuguesa (Almada, Vianna, Pessoa…), mas também amigos e conhecidos e fez vários autorretratos. Nesta pintura íntima, de cores lisas e formas recortadas, que lembra cartazes, destacam-se os retratos das suas companheiras, nos quais se distribuem rostos e corpos reconhecíveis, ou partes de corpos, e sexos. Superfície Laranja, Nu Cinza, presente nesta exposição, é um exemplo desta intimidade registada em cores vivas.
Horário Terça-domingo // 10h-13h e 14h-18h