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Galeria Zé dos Bois
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Super Ballet #3 com Puce Mary, Emma DJ, Falésia

Como se a física quântica de Bohr, a fragilidade humana de Von Trier ou os contos de Christian Andersen não fossem suficientes, também a dinamarquesa Puce Mary parece explorar a imaginação e a possibilidade; quase indissociáveis, até.

A criação de espaços mentais ou a sinestesia gerada pela sua arte, são resultados tão naturais quanto inevitáveis, de quem decide romper com uma realidade familiar, confortável e apaziguadora. Na verdade, tudo elementos antagónicos na obra The Drought, possivelmente um dos discos mais desafiantes que escutámos em 2018 — e um motivo forte para continuar a segui-la nos próximos.

Membro do coletivo Posh Isolation, um dos epicentros da nova música europeia, ela reúne-se de um campo magnético de ruído e eletricidade estática como habitat de uma música, que há falta de outro termo, simplesmente se definiria como transgressora. As escutas e suas percepções a quente, poderão indiciar uma reinterpretação per se, de tantas outras encarnações do noise ao industrial; fale-se de Whitehouse, estabeleçam-se elos com os Wolf Eyes e nunca se esqueça do enorme contributo dos Throbbing Gristle a todo este viveiro. Nomes que fazem sentido para entender numa primeira abordagem, mas que se esvanecem, com subtileza, quando a real audição avança – e eventualmente se perde nesse labirinto de tensão e suspense que a artista cuidadosamente constrói.

Ainda que o ponto de partida se faça através de uma estética atonal e desconcertante, não se poderá limitar um disco como The Drought apenas a cunho de cinco letras; e se existe vida para além desse cunho noise, Puce Mary materializa-o. E trata-se de um laboroso de composição e empatia, sabendo extrair sensações e provocar algo desconhecido através de sons em estado bruto. Nada surge de forma gratuita e cada momento parece assumir-se como uma forma vital num todo. Até mesmo a capa de The Drought se apresenta altamente sedutora e profana (em iguais proporções), digna de um enigmatismo que só tende a crescer com o mergulhar neste buraco negro.

Em palco, partilha uma experiência próxima de uma natureza ritualista. Surge munida de uma extensa maquinaria e presença plena de urgência — abrindo fendas em redor. É com enorme entusiasmo que a recebemos de novo. NA

Desde o início de 2019, Emma DJ tem vindo a criar um catálogo de lançamentos em rápida expansão, com 3 álbuns em cassetes, bem como lançamentos em gravações como UIQ, REIF, Collapsing Market, BFDM e L.I.E.S.

Uma produção notável do finlandês nativo que tem vindo a forjar discretamente uma estética própria após uma década de música electrónica em todos os cantos da indústria. As suas produções exibem uma clara propensão para sons mais duros, mais grandiosos e sempre indescritíveis, traduzindo-se directamente nos seus DJ sets, bem como no seu espetáculo experimental colaborativo ao vivo ‘g0drm’ que estreou na Bourse de Commerce, Collection Pinault, em Junho de 2021.

A operar desde 2014, Falésia é alter-ego criativo a solo de Nuno Afonso, nascido em Portimão em 1982 e a residir em Lisboa na última década. A guitarra elétrica é o instrumento basilar do seu fluxo de trabalho, embora resgatando outros instrumentos e outros recursos. Assente numa abordagem livre, em termos técnicos e musicais, muitas das suas improvisações e composições pautam-se pela aproximação ao minimalismo e ao espectro sonoro de cariz mais exploratório. É nos momentos de tensão e contenção que procura uma luminosidade anímica e expressões texturais maiores. O fascínio pela natureza vulcânica das coisas é um guia constante no seu percurso enquanto artista sonoro, mais do que músico. Alguns dos seus trabalhos publicados em 2021 incluem: «Erzulie», «Ad hoc», «Seiva», «RAW MEDITATIONS» e «Vivarium», este último aparecido com o fanzine sonoro e gráfico Saliva. Na escrita musical, tem um passado ligado às publicações Kling Klang, Mescla Sonora e Vice, actualmente colabora com a ZDBmüzique e Rimas e Batidas. Também é um dos residentes na Rádio Quântica.

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