Durante anos a operar sob o monicker Heatsick, Warwick demonstrou os paraísos artificiais possíveis através da sua electrónica bastarda. Inicialmente recorrendo a teclados Casio vintage, a veia DIY permitiu a infusão necessária para que tudo o resto se interligasse de modo orgânico, livre e, acima de tudo, urgente. Re-Enginnering talvez seja o disco que melhor resume esse maravilhoso microcosmos. Além disso, o artista britânico também contribuiu para inúmeras instalações sonoras, composições e peças escritas para filmes e teatro. A sua música vive afinal dessa descontextualização consciente pela experimentação linguística – e sede de novas expressões.
Desafiando as perceções em redor da pop, Warwick conjuga brisas funk aos pedaços abstratos da house enquanto ecos de outras frequências globais se sintonizam de modo subliminar. As formas perpendiculares que traçam a sua música permitem-lhe tomar atalhos a géneros e épocas. MOI surge então em 2019, já em nome próprio e aportando dimensões ímpares. O formato de canção parece mais próximo embora o destino se mantenha aberto às variáveis do momento. É através da criação de espaços imaginários que se desenham os ritmos palpitantes e as melodias enigmáticas – sob uma voz sussurrante de quem observa esta alquimia a acontecer diante de si. Surreal como People Like Us ou surpreendente como Matthew Herbert, Warwick inscreve-se nessa linhagem de mago dos nossos tempos. NA
Pela mão da Quântica, extravasando a sua condição de rádio, surge uma das surpresas de 2022. O trio composto por Photonz, nëss e Slug Beetle evoca a dinâmica orgânica do conceito de banda, num prisma diferente do que conhecemos do trabalho a solo de cada um. A soma das partes resulta num EP de peças atmosféricas e plenas de cor, encontrando espaço para canções cuja dimensão crescente não apenas cativa no imediato como persiste em regressar a elas, escuta após escuta. NA