Fernando Amado
O Chiado foi um lugar de teatros, mas com Fernando Amado e Almada Negreiros foi um alfobre de artistas. Na edição das Peças de Teatro de Fernando Amado (1899-1968) (INCM – 2000) organizada por Teresa Amado e Vítor Silva Tavares, encontramos um levantamento exaustivo da intervenção de Fernando Amado como dramaturgo, encenador e animador teatral: e verificamos como grande parte dessa ação notável passou pelo Centro Nacional de Cultura e pelo Chiado. Em 16 de junho de 1946, pouco mais de um ano depois da fundação do CNC, Fernando Amado estreia-se como autor e encenador, produzindo no velho Teatro do Ginásio do Chiado, até 30 de maio de 1947, seis espetáculos no âmbito do então recém-criado Centro, de que era um dos principais dirigentes: “O Meu Amigo Barroso”, “Música na Igreja”, “O Ladrão”, “Novo Mundo” e “A Caixa de Pandora”. É interessante recordar alguns dos nomes notáveis que colaboraram nessas produções, e desde logo Carlos Botelho, António Dacosta e António Lino como cenógrafos e figurinistas, mas também de jovens e inesperados atores, além do próprio Fernando Amado: Maria da Soledade Freire de Oliveira, Margarida Perestrelo Castro, Ricardina Alberty, Ruy Cinatti, Afonso Botelho, Vasco Futcher Pereira, Gastão da Cunha Ferreira, Flórido Vasconcelos, Martim Lencastre Cabral, Maria José Meneres de Castro… São nomes marcantes que se evidenciaram em diversos domínios da vida nacional, demonstrando o papel cívico e educativo do teatro.
A ação de Fernando Amado projetar-se-ia, porém, para além desse período, designadamente na produção de espetáculos, a partir de 1960, em cinco produções: “Antes de Começar”, com o seu amigo Almada Negreiros, “O Contrato” de Marinetti, “Passadismo” de Stinelli, “Génio e Cultura” de Boccioni, “O Marinheiro” de Fernando Pessoa (encenado também no Brasil em 1962) e, ainda, depois, “O Morgado de Fafe em Lisboa”, de Camilo Castelo Branco. É da digressão brasileira do “Marinheiro” de Fernando Pessoa a fotografia que a seguir se apresenta, com Glória de Matos, João d’Ávila, Isabel Ruth, Manuel Bandeira e Manuela de Freitas (a quem o poeta dedica um livro), Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, Cecília Meireles, César Augusto e Norberto Barroca. Glorioso encontro!
A partir de 1963, a colaboração com o CNC reforça-se e estabiliza com a criação da Casa da Comédia e a produção de sucessivos espetáculos, em regra de autores portugueses (Gil Vicente, Teixeira de Pascoaes, Fernando Amado, Soror Juana Ines de La Cruz, Manuel Bandeira e Jean Cocteau) mas sobretudo Almada Negreiros, com a reposição do “Antes de Começar” e sobretudo, insista-se na expressão, com a revelação do “Deseja-se Mulher” (1963), dirigido por Fernando Amado.
Referimos apenas o homem de teatro. Poderíamos ainda acrescentar o ensaísta e homem de letras e ideias e o célebre autor da tabela de classificação dos resultados desportivos no atletismo, reconhecida internacionalmente.
Guilherme d’Oliveira Martins
(Texto elaborado com Duarte Ivo Cruz)