A sensibilidade de “Painting Stupid Girls”, álbum editado em 2020 na World Music, encapsulou a genuinidade e mistério da cantora em seis canções, com a naturalidade do som caseiro e um espírito DIY que carrega as delícias de cantoras folk do passado, ligando Joni Mitchell a Sibylle Baier de forma emocional. Tem um dom de conjugar o campo do real com a matéria dos sonhos. Carrega o terreno para o onírico, e vice-versa, movendo tradição folk para o experimental/avant-garde, enquanto expande a sua voz para tempo e espaços infinitos. É possível que tenha sido este dom, esta voz, que se ouve como se não existisse num qualquer lugar ou tempo que tenha conquistado Dean Blunt, e que o tenha convencido a deixar que Robertson seja uma presença que vem à cabeça assim que se pensa em “Black Metal” ou “Black Metal 2”. Por falar em Dean Blunt, aconselha-se também o álbum que gravaram em conjunto, “Walhalla”, na Textile, onde experimentam de forma aberta o que cada um pode dar ao outro. Não é por acaso que a delicadeza da folk, a voz ausente-presente de Joanne Robertson, faz lembrar Arthur Russell. Pertence ao mítico, à eterna descoberta e ao fascínio de se estar a experienciar algo que parece já não existir. Mas aqui existe, é bem real, e isso dá-lhe toda uma outra dimensão.
Viveu em Londres durante muito tempo, mas reside agora em Glasgow, com o seu marido, Jasper Baydala, ou Kool Music, a máscara que o guitarrista escolheu para as suas composições que misturam elegantemente toques de experimentalismo japonês, a linguagem expansiva de Jim O’Rourke e o respirar de Derek Bailey. “Zen Guitar”, editado em 2020 na Primordial Void, assume essas influências com uma saudável casualidade em canções de três minutos. AS
Entrada: 9€
Bilhetes disponíveis online: https://zedosbois.bol.pt/
Música
Galeria Zé dos Bois
R. da Barroca, 59 . 1200-049 Lisboa
Joanne Robertson + Kool Music
Joanne Robertson ouve-se como uma criação de ficção ou uma história a revelar de artista perdida de outro tempo que chega agora ao presente. Mas é tudo bem real, Robertson pertence ao agora e usa essa existência como um feitiço para atrair o ouvinte, encaixando-o num puzzle enigmático de criações de voz e guitarra.